quarta-feira, 31 de agosto de 2011

De uma mineira pra outra


                Tudo começou ali mesmo, na Saraiva do Rio Sul. Quer dizer, pra ser mais específica, começou em um ônibus voltando de um dia de assembleia. Ela sentou ao meu lado e começou a conversar comigo como se nos conhecêssemos há anos.
                - Você é de onde?
                - Sou mineira!
                - Sério? Eu também.
                Começamos a encontrar nossas semelhanças. “Eu tenho um blog.” Eu também. “Meu passatempo favorito é ir pra uma livraria e ficar lá lendo e tomando café.” Meu Deus! O meu também.
                - Qual seu nome?  - perguntei.
                - Marcinéia.
                “Marci o quê?” – pensei, mas não quis perguntar de novo. Ela poderia pensar que achei o nome estranho, ou sei lá... Sobre o nome não tenho nada a dizer, mas confesso que a achei muito peculiar. Eu estava no Rio de Janeiro há alguns meses e ninguém havia tentado puxar papo, fazer amizade comigo, como ela. Logo me passou o telefone e me chamou para uma caminhada. “Topo”, eu disse, esquecendo-me da minha preguiça. Mas mal sabia eu que ela também era do clube das sedentárias. Era daquelas que marcava uma praia na Urca e desviava logo pra Saraiva do Rio Sul...
                E foi ali na Saraiva do Rio Sul que surgiu essa história do livro. “Poxa, Joyce. Gostei muito do seu blog, porque você não escreve um livro?“ disse ela após me contar como estava sendo animador concluir o seu. Achei aquela observação completamente anormal – se ter um blog com algumas crônicas e poesias, enquanto estudava matemática, já me tornava paradoxal. O que seria de mim com um livro publicado? Quem publicaria um livro meu? E o mais importante, quem leria? A meia dúzia de pessoas que visitam meu blog (que incluía minha mãe e umas três tias?).
                Tentei não dar muita corda, mas a empolgação dela me contagiou. “Escreva sobre um menino prodígio, desses gêniozinhos, pode ser matemático, que se apaixona por uma patricinha qualquer.” – história mais clichê do que essa não existe. Mas nem me importei. Comecei a viajar, imaginar personagens, situações e coisas do tipo. Saímos dali com um nome. Era algo do tipo “Café e teoremas” e depois entrou um chocolate do meio, não sei como. Prometi que enviaria os capítulos à medida que fosse escrevendo. Ela deve estar esperando essa história até hoje. Nunca escrevi mais do que uma linha... Eu achava que escrever um livro me tornaria inconsistente – no sentido da lógica mesmo.
                Uns dois meses depois, estávamos na mesma livraria. Eu peguei um livro de crônicas do Veríssimo e ela me chamou. “Eu amo o Nicholas Sparks”. Eu o conhecia, quer dizer, conhecia os filmes – Diário de uma paixão, Amor pra recordar, Noites de Tormenta e Uma carta de amor – mas nunca tinha lido nenhum dos seus livros. Ela então abriu no prólogo de “Querido John” e leu em voz alta as primeira páginas aproveitando que não tinha quase ninguém perto.
                “Tá vendo, Joy. Tá vendo? Isso que eu tô te falando... você sabe escrever. Prestou atenção? Você consegue escrever um livro e vai ser bom.”
                Me empolguei, não só com a confiança e insistência dela, mas também com o texto na primeira pessoa, numa linguagem simples daquele escritor famoso. Corri pra casa e comecei a colocar minhas ideias num papel.
                Daí surgiu o Luan. Um mineirinho romântico, das antigas, amante de cartas, colecionador de selos e que se apaixonou, enquanto criança, por uma ruivinha que tinha cheiro de tutti-fruti. Consegui montar um enredo, criar personagens, situações e até um suspense. Com quem o Luan termina, afinal? Com a Camila, a Marcela ou a Lavínia? Não sei, porque não terminei a história. Parei na página duzentos, onde ele reencontra a “fulana” (vai que eu termine depois, né? Não posso contar agora.). Também não faço a mínima ideia de qual seria o nome do livro, chamo-o carinhosamente de “livro-sem-nome”.  Nunca fiz questão de termina-lo... Mas a Marcinéia não me deixa em paz. Ela leu todos os capítulos enquanto eu os escrevia. Dava sugestões, tentava empurrar o Luan pra alguma das meninas (mas eu não deixei – risos)... E agora ela quer que eu acabe logo com essa história. Independente do final, ela quer saber o que acontece.
                Tentei convence-la de que meus pensamentos não são convergentes. Que não consigo escrever histórias longas. Me perco em minhas digressões. Prefiro me concentrar em textos curtos, quem tenham início, meio e (en)fim em apenas duas laudas. Foi quando surgiu o “Café, cálculos e crônicas” – (lembra do ‘café e teoremas’?).
                Graças a ela, minha amiguinha e segunda mãe (ela não gosta quando perguntam se sou filha dela. Acha que estão chamando-a de velha.), eu ganhei um amigo e segundo pai, o Lincoln, e um filho – meu livro de crônicas que vai ser lançado no mesmo lugar onde toda essa história começou.
                Paradoxos, inconsistências e contradições à parte, eu sou muito sortuda por ter conhecido essa pessoa tão especial! Amo você, Honey!
               
    "Café, cálculos e crônicas", lançamento dia 16 de setembro, às 19h na Saraiva do Rio Sul.
     Aguardo vocês!