quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Não importa à qual vista




 Quando falei de amor à primeira vista, juro que eu estava brincando. Nunca acreditei nessa bobagem, mas disso também você não sabe. Não fomos apresentados. Não dissemos sequer um “oi”, pelo menos não pessoalmente. O simples fato de tê-lo visto na lista de amigos numa rede social, foi o suficiente para comentar com alguém. Investigação mesmo. Queria já saber quem era e o que fazia. Achei você bonito. Seu cabelo desarrumado e sua barba por fazer chamaram minha atenção. Ainda não senti seu cheiro, nem seu hálito. Não vi se tem esse brilho todo nos olhos e a sagacidade retratada nas fotos, mas toda vez que te vejo, ou melhor, vejo seu perfil, tenho a impressão de ter encontrado o homem da minha vida.
       Contei isso para uma amiga. Nossa amiga, na verdade. Eram sobre você aqueles códigos. Nossa maneira de disfarçar qualquer evidência que me entregasse nos infinitos recados no Facebook. Demos a você um apelido. Não. Por favor, não insista em saber. Nunca vou te contar. Piegas demais.
       Acredito que o amor não precisa ser à primeira vista. Acho essa história pura bobagem. Não importa se é à primeira, segunda, milésima... o importante é que o amor existe e chega na hora certa. Bom, para uns demora um pouco mais, mas chega...
       Cara! Nunca nos encontramos e às vezes nem acredito nisso, porque toda vez que vejo uma foto sua em um álbum de algum amigo – dos vários que temos em comum - ou que você posta no Face, sinto como se nos conhecêssemos há anos. Parece que já trocamos figurinhas no colégio, que já brincamos de pique-esconde e eu te encontrei escondido atrás do guarda-roupa da mamãe. Sim, você. Tenho certeza! Sem essa barba, sem voz grossa. Caramba! Não sei como é sua voz. Mas imagino. Deve ser tão bela quanto você. Tá, você não deve ser cantor, aliás deve ser desafinado à beça, mas imagino você tocando violão. Até que toca bem, sabia? Mas não cante. Guarde sua voz para falar versos de amor no meu ouvido. Ficarei quietinha... Só te ouvindo. Depois vamos nos abraçar. Sairemos no inverno e hei de querer seu moletom para me aquecer. Seu cheiro ficará grudado em mim e sentirei cócegas quando sua barba roçar o meu pescoço. Hei de amar os seus vários sorrisos! Do sem graça ao mais apaixonado. Aliás, esse será sempre o meu favorito. Olha, você ainda não sabe, mas me ama. Não. Ainda não ama não, afinal, nem houve “a vista”, mas quando acontecer, então saberá, ou melhor, saberemos.
       Passei um tempo desconectada, mas não me aguentei  e entrei no seu perfil. Cara, que lindas suas fotos da viagem com a família. Fiquei com ciúmes. Queria estar ali com vocês. Na viagem e nas fotos. Sua mãe é linda e acho vai gostar de mim. Ainda contarei muitas piadinhas no churrasco de domingo com seu pai. Vamos rir tanto que você vai me dizer: “Para de dar corda pro meu pai, ele não tem limite.” E eu direi: “Qual o problema? Deixa ele, co0itado.”
       Serei a nora favorita. Serei a namorada perfeita. Não, perfeita, não. A gente vai brigar muito, sabia? Eu vou te ligar na quarta à noite reclamando porque não ligou e você vai dizer que estava terminando de preparar uma apresentação. Vai me pedir desculpas e eu, boba, aceitarei. Você vai reclamar dos meus atrasos toda vez que a gente sair. Mas vai entender, quando notar que eu estava me preparando, embelezando pra encontrar você.
       Sabe, ainda nem fomos apresentados, ainda não conversamos, não sabemos do que o outro gosta. Nada. Absolutamente nada.  Mesmo assim, tenho certeza de que seremos felizes. Não para sempre. Mas o suficiente para nos tornamos inesquecíveis um para o outro. Não importa à qual vista, mas será amor. Muito amor...

P.s.: Essa é uma das 35 crônicas do livro "Café, cálculos e crônicas" de Joyce Figueiró

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Queridas Calorias


Acabei de chegar da academia e estou com fome. É só sair de lá que aumenta o meu apetite. Confesso que parei de levar dinheiro quando vou malhar desde que colocaram uma lanchonete e uma casa de tapiocas no meio do caminho. Aquele cheiro de batata frita, presunto e bacon me mata!

“Mas foram cinquenta minutos de sofrimento no spinning!” – isso porque hoje eu fiquei com preguiça de ir para a aula de dança aeróbica.

Tento me concentrar, ignoro o cheiro de gorduras e penso naquele fedor de gente suada da aula. Hum… eca! Perdi o apetite.

Odeio ter que ir para a academia. Odeio musculação. É uma coisa tão sem sentido, não acha? Ficar puxando e empurrando peso não tem graça. Não quero ser bombada, nem ficar “gostosona” para ouvir “fiu-fiu’s” no meio da rua. Quero apenas acabar com a camada adiposa extra que me pertence – eu gostaria de ser clara com você, querido leitor, e dizer que eu estou acima do peso e preciso emagrecer, mas nessa onda de bullyng que nos rodeia, se autodenominar gorda pode dar cadeia.

A primeira vez que me matriculei numa academia e fiz a avaliação, me sugeriram fazer esse tal de “spinning” e, como uma boa alienada que sou, tive que ter a ousadia de perguntar: “o que é isso?” Provavelmente, a resposta que eu obtive foi a mesma dada em todas as academias e à todos que perguntam: “Spinning é uma atividade aeróbica e de mudanças de ritmo, realizada em uma bicicleta estática ao ritmo da música, simulando subidas, baixadas e planos.” Ou seja, você fica pedalando em cima de uma bicicleta que não sai do lugar e que faz doer o bumbum enquanto o professor fica gritando: “aumenta carga”, “vamos subir”, “sinto cheiro de pneu queimado”, “saí pizza”, “sai torta de chocolate” “vamos… façam de conta que estamos subindo o Alto da Boa Vista.” Isso tudo ao som de alguma música agitada.

Sabe o que é pior? Durante a aula eu só conseguia pensar no rodízio de pizza que fui no sábado passado. Eu amo comer – quem não ama, né? Amo pizza – essa maldita que esconde infinitas calorias no seu “z” extra. E, para piorar, acabamos a noite de sábado na Lapa, tomando açúcar com limão, gelo e cachaça – que é vulgarmente conhecido como caipirinha. E enquanto pensava nisso eu prometia a mim mesma nunca mais vacilar assim de novo.

“Pizza? No máximo uma fatia e a mais light possível!”.

“Caipirinha? Uma vez por ano e não se fala mais em bebida alcoólica até que (quase) toda a minha camada adiposa tenha se exterminado.”
Eu, essa pessoa que vos fala, está definitivamente de dieta!
(O telefone toca!)
- Oi amiga!
(…)
- Eu estava escrevendo, mas nada muito importante, não. Acabei de voltar da academia.
(…)
- Rodízio de que?
(…)
- Hum, que delícia. Que dia?
(…)
- Sexta está perfeito! Todo mundo vai?
(…)
- Hum… Legal! Vai ser onde, Ipanema mesmo?
(…)
- Claro, pode ser.
(…)
- Festa depois do rodízio? Qual a graça?
(…)
- Ahh…Não vai ter comida? Ainda bem, né? (Risos)
(…)
- Então vão se reunir para beber?
(…)
- Claro que topo. Passo de carro na sua casa, 19h.
(…)
- Até lá, Beijos.

Bom, como eu estava falando, eu ainda tenho dois meses pagos na academia. Ainda terei muito suor de reclamação para derramar nas aulas de spinning.

Vídeo extra: